O julgamento da tragédia de Cromagnón continua em Buenos Aires. Dentro do tribunal, os pais das quase duzentas vítimas protestam em silêncio mostrando fotos de seus filhos, enquanto um vidro a prova de bala os separa dos acusados. Fora do edifício mais familiares disputam espaço com os vários fãs da banda Callejeros que pedem "Basta de culpar a Callejeros".
Dessa vez, os entrevistados são o Hacia Dos Veranos, uma das primeiras bandas que conheci em Buenos Aires. Nunca fui fã de música instrumental, mas esse grupo me fez mudar um pouco isso. Com ótimas melodias, suas músicas compõem climas e ambientes únicos, que mesclados com as imagens projetadas ao vivo, formam um belo espetáculo. Não é à toa que talvez seja a banda que mais vi ao vivo na cidade.
Na conversa, o guitarrista Ignacio Aguiló fala de como é foi a adaptação pós-cromagnón, da cena argentina e da preocupação de casar perfeitamente imagem e som nos shows.
Qual o panorama do rock argentino agora? Existe um estilo que o define?
Não acho que exista uma coisa chamada rock argentino e nem um Indie rock argentino. Acho que os problemas gerados pelo incêndio de Cromagnón e o fechamento de muitas casas de shows causaram uma concentração de tudo em poucos lugares. Além disso houve uma certa tendência dos artistas se apoiarem em ciclos de música do governo. Isso afetou bastante a cena "emergente".
Existe uma preocupação com a parte visual nos shows da banda. Como funciona? Música e imagem se complementam?
Sempre que podemos, contamos com a arte visual do nosso amigo Dr. Chance (Mariano Baez), que tem o cuidado de escutar cada uma das músicas para poder dar a imagem exata para cada canção. Mariano é o criador (junto com Franco Estrubia) do vídeo que vem dentro do nosso disco "De los valles y volcanes", e que corresponde a canção "Preludio". É uma série de fragmentos em super 8 e imagens e lembranças perdidas de gente sem nome, ideal para o que queríamos contar nesse momento com o nosso ep "Fragmentos de una tarde". Mariano tem uma extrema sensibilidade para entender nossa música e a plasmar em imagens.
Para a gente é quase indispensable poder contar com esse tipo de imagens nos shows, porque consideramos que ela aumenta muito a qualidade do espetáculo. Ou seja, não são imagens soltas por aí, existe um sentido por tras de tudo isso.
Como você definiria o som do Hacia dos veranos?
Nossa música tem sido definida de muitas formas e é ótimo que cada um a interprete como queira. Inclusive teve alguém que disse que nós tinhamos inventado o "post rock kwee". Na verdade não sabemos definir bem. A melhor maneira de descrever a banda seria tomando emprestada a linguagem da pintura: nosso som é impressionista. Definitivamente um som próprio, nosso.
Por que a opção de ser uma banda instrumental? Por que não cantar?
Não foi uma escolha, aconteceu naturalmente. Havia uma canção em que não podíamos colocar a voz. Não importaba o quanto trabalhávamos nela, não encontrávamos a melodia que caisse bem. Aí eventualmente percebemos que era a melhor música que tínhamos feito. Tomamos essa música como ponto de partida para começar de novo e a desde então nossa música se tornou mais livre, como se a voz antes fosse um obstáculo. Essa canção mais tarde foi chamada de "Sueño".
Como é o processo de composição das músicas?
Até agora sempre trabalhamos assim: um traz a idéia, fechada ou não, e no ensaio a banda dá uma forma final. Isso vem acontecendo desde os primeiros ensaios, quando cheguei com o riff de "Preludio" e me tornei grande responsável pelas melodias. Mas nossas músicas estãoo impregnadas com os espíritos de todos seus integrantes. Cada um acrescenta um pouco de si no geral e assim as coisas vão mudando de acordo com os integrantes que vão passando.
Existem muitas bandas de post rock na Europa como Explosions in the sky, Godspeed, Sigur Ros, mas muito poucas na América Latina. Qual seria a razão?
Na verdade não sei. Para ser sincero nunca escutei Explosions ou Godspeed, por mais que as pessoas digam que nossa música tenha pontos em comum. No fundo nunca nos consideramos uma banda de post-rock mas, talvez como forma de aventurar uma resposta, o post-rock por definicão é uma música para um público muito limitado, e dentro do já limitado público Indie latino encontrou um espaço menor ainda para se desenvolver.
Já tocaram no Brasil? Planos de tocar?
Fomos convidados para tocar no festival "Algumas pessoas tentam" da Midsummer Madness", onde participava o Jens Lekman e outras bandas locais no Rio de Janeiro, mas infelizmente não fomos por problemas de agenda de alguns de nós. Foi uma pena já que estávamos muito empolgados para tocar. De qualquer maneira estamos com as malas prontas para viajar assim que tivermos condições. Temos muita vontade de conhecer o Brasil e que o Brasil nos conheça ao vivo de uma vez por todas.
Planos para o fim do ano e 2009?
Estamos dando os toques finais no próximo disco, essa é a meta principal. Depois pensamos em visitar os países irmãos Uruguai, Chile e Brasil, é claro.
Mais da banda em:
Site Oficial: www.haciadosveranos.com.ar
Myspace: www.myspace.com/haciadosveranos
Sueño ao vivo:
quinta-feira, agosto 28, 2008
Especial Rock Argentino: 3 - Hacia dos Veranos.
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2 comments:
Um passo de escrever pra Rolling Stone, hein, cabrón!
Um blog com "linha editorial" realmente é uma coisa fina!!
haha... bem que seria massa ser pago para fazer isso, mas mesmo assim seguiremos com as entrevistas! depois do especial buenos aires, o especial de curitiba.
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