Meu professor de roteiro se chama Fabián, mas mesmo sendo argentino acho que ele já deve ter visto alguns capítulos do clássico "A escolinha do professor Raimundo".
É que durante bom tempo da aula, depois que vemos alguma parte do filme, ele fica perguntando para os alunos que é isso, o que significa aquilo outro. Todo mundo fica naquele maior medo de dar uma de Seu Boneco, falar merda na resposta e que os coleguinhas cults lancem aquele olhar blasé de "Nossa, como você é burro".
Tivemos que ver "Sideways" como lição de casa e justo eu fui o primeiro a ter que responder algumas coisas. Já comecei errando a curta sinopse que fiz quando ressaltei os relacionamentos amorosos e não citei os conflitos existenciais. Também caguei quando disse que só havia um protagonista. Errado! Eram dois. Mas o pior foi quando disse que o antagonista era a mulher por qual o cara se apaixona. Foi um erro grosseiro. O antagonista geralmente é o vilão, aquele que entre em conflito com o protagonista e impede o seu sucesso. Pode ser uma pessoa, uma cidade, uma dor no pé, uma gangue de malfeitores, enfim. Pode ser até o próprio protagonista como era o caso.
Passei a aula toda me sentindo uma bosta e sem me perdoar por tamanha merda proferida. Senti olhares de desaprovação dos colegas e ninguém quis comer meu alfajor quando ofereci na hora do recreio. Lembrei que o Brasil tinha perdido de 3 a 0 da Argentina e me senti pior ainda.
A aula continou e foi mostrado o início de "Três dias do Condor" como um exercício. Era para ver quantas informações conseguíamos sem diálogo no primeiro ato. Como todo bom herói precisa de uma redenção, pensei que aquela seria a minha. Eu teria que ver alguma coisa que ninguém mais visse para obter de volta a aprovação dos colegas!
Papo vai, papo vem. Todo mundo falando do possível romance do cara, de que ele era inteligente, que não sabia lidar com armas e blablablá. O professor concordava mas dizia "Gente, existe algo aqui fundamental que vocês não falaram ainda". Mais elucubrações, um cara fala do ambiente tecnológico para a época, mas não era isso que o professor queria.
Aí chega o momento da minha glória! Com firmeza digo que o personagem é um outsider e não obedece regras já que ele sai pela porta que não devia sair e anda de bicicleta na hora do rush! "Exatamente", diz o professor. Toda classe olha para mim com aquela cara de "É meeeeeeeesmo". O Brasil é penta!!!
Fim de aula e minha dignidade está de volta graças ao Robert Redford numa ridícula bicicletinha!
8 comments:
Moral da história:
Sempre dá pra virar o jogo em cima da Argentina aos 47 minutos do segundo tempo. Só não é possível se o técnico for o Dunga. Aliás, se fosse o Dunga, o escalado pra aula de roteiro seria o Jô ou o Breno.
quanto orgulho (de novo)!!!
Hahhahaha isso ai! mostra presses argentinos quem eles são!
é isso ai! vibrei aqui e quase gritei "ole"
Imaginei até um trailer para a aula... ahah
hahahaha, de longe, tua melhor história...
O Brasil é penta!!!
Túlio, continuamos aqui torcendo por você...
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