sexta-feira, novembro 21, 2008

Tarde.


Em Buenos Aires parece que a vida acontece mais tarde.

Desde a hora do rush no metrô, que é entre as 9 e 10h30 da manhã, porque muita gente vai trabalhar às 10. Assim o almoço também é mais tarde, 1h30 quase 2. As pessoas saem do trabalho às 7 da noite e, logo, jantar só 10 da noite. Incrível que mesmo comendo tanto e tão tarde existam tão poucos obesos nas ruas.

E tem a famosa "naite". Se você quer sair, é melhor chegar após as 2 da manhã senão há o risco de se deparar com um lugar completamente vazio. Boemia, meus caros.

Mas não é só nos ritos diários que a vida acontece mais tarde. Estranho notar quando todos celebram a graduação na faculdade com 28 anos e consideram isso um feito. Parece que aqui não é só medicina, engenharia e direito que é barra pesada. Para passar tem que suar e engolir os livros. Nada comparado às faculdades empurradas com a barriga na terra brasilis.

É difícil comprar uma casa, os aluguéis são caros e as pessoas custam a sair da casa dos pais. Os próprios casamentos mesmo são bem raros abaixo dos 30. Não que isso seja estranho, muito pelo contrário. O estranho é isso ser quase regra.

Aqui você entra num restaurante ou café e não existe aquela correria de garçons para te trazer o Menu. Está todo mundo ali devagar, lendo um La Nación na maior, fumando um cigarrinho, comendo uma medialuna na maior tranquilidade. Parece que ninguém tem compromisso e mais nada melhor para fazer. Às vezes paro para ver isso e é tão poético, mas outras vezes é uma tremenda bosta. Tudo o que você mais quer é que a bicha do garçom anote o seu bendito pedido, mas incrivelmente ele sempre tem uma coisa mais importanta para fazer do que olhar para você acenando como um idiota.

16 comments:

Djones disse...

Oi! Quem é você? Beijo!

Túlio disse...

Muito existencial essa pergunta.

André disse...

Isso também acontece na Espanha. É bem assim mesmo: eles jantavam as 22hs, eles almoçavam as 14h30. E o horário de trabalho deles era, em geral, a partir das 10hs. Alias, a programação da TV já era engraçada: a programação matinal ia das 9hs até as 14hs (aham, a MATINAL), a diurna ia das 14hs até as 21hs (8 da noite era 8 da tarde) ai tinha o access primetime que era a faixa de programa antes do horário nobre que ia até as 22h30 e ai sim começava a programação principal.

E eles ainda tem o horário da soneca: das 14hs até as 17hs (ou seja, na hora que você mais precisa que as coisas estejam abertas) quase todo o comércio fecha (e depois eles abrem de novo até as 20hs). E em agosto, que é o mês de férias, é difícil encontrar até FARMÁCIA aberta.

Ai ai, na verdade eu invejo bastante eles... eu sinto que eu me adaptaria bem melhor a esses horários do que os nossos.

Túlio disse...

muitas cidades da Argentina ainda adotam esse horário da siesta. As lojas fecham lá por 14h e voltam as 16h. Dizem que até alguns bairros de Bs As tem isso...

Anônimo disse...

Discordo rotundamente, Túlio. O que eu pude perceber depois de dois mestrados aqui foi justamente o contrário. Os argentinos empurram MUITO MAIS com a barriga que os brasileiros. Não fale assim. No Brasil, o cara tem o MAIOR interesse em entrar logo no mercado, faz das tripas coração. Só Filhinho de Papai de Públicas é que não (talvez, como aqui).

Aliás, é por essa mentalidade moleza, tanto dos alunos quanto dos professores é que eu cursei quase até o fim, mas me enchi dos dois mestrados. (Tinha gente que estava no mestrado há QUATRO anos quando comecei meu primeiro. E eu desesperada já no primeiro dia pq não tinha idéia do projeto, queria começar com projeto em mente desde o dia zero. Aqui ninguém tem pressa. Já viu relógio em algum lado nessa cidade? É toda uma cultura da moleza.) Abs.

Anônimo disse...

Ah, não sei a sua graduação, mas a minha eu não empurrei com a barriga não, e ainda dava tempo de fazer uns dois estágios ao mesmo tempo! Saludos.

Túlio disse...

Oi Ludmilla! Acho ótimo você mostrar o outro lado da coisa.

Pelo menos é assim que vejo as coisas por aqui, com meus amigos e colegas. Mas nunca estudei ou fiz mestrado por aqui.

De qualquer maneira não generalizemos. Não disse que todo brasileiro leva a faculdade com a barriga e nem que todo argentino é um mártir do estudo.

Anônimo disse...

Sim... aliás, eu esqueci de dizer que era dessa parte que eu dircordava e das outras não (garçons e cafés, impossível discordar, he!), mas como eu já tinha escrito picado, deixar o terceiro comment seria pesado. Agora tái, falei. Beleza, vc tá lá no Cartas Argentinas tb. Saludos!

André Ramiro disse...

Vou começar o mestrado agora e se alguém levar com a barriga, está perdendo tempo....rs

Anônimo disse...

Muita nostalgia essa foto.

Túlio disse...

hahahah... Sim, sou eu "soltando" um Haduken depois de um La Cigale lá na av. Córdoba.

Nostalgia total!

Ana disse...

justo iba a preguntar por la foto... me encantó!!!

los horarios argentinos también trastornan a los venezolanos, si a eso le sumas las 400 horas de día... desastre total! Ayer por ejemplo se me olvidó comer :-/

marie disse...

ai, eu merecia ter nascido argentina, então, sério, me deu até uma nostalgia do que não vivi (pode?). corri tanto, me desdobrei, trampando, pensando, engolindo rápido pra aproveitar bem o tempo (!!) já estou na segunda, (terceira talvez)disso e daquilo, mas cadê os pequenos prazeres, cada vez mais escassos? pronto, eu mereço uma vida mais argentina, seja lá onde for. não vejo nada de pejorativo em entregar-se mais à vida e se preocupar menos com relógios. será por isso que eles têm tantas livrarias e cafés? hmmmm

Marcelo Urânia disse...

esse texto me fez pensar que o sexo das argentinas é vagaroso e denso. e com o ápice às 8h!

Nayara Duarte disse...

estudo em uma faculdade pública e na minha turma tem dois tipos de pessoa. os que ficam surtando, noiados, achando que tem que estudar e entrar logo no trabalho e o povo mais de boa, que acha que as coisas acontecem quando tem que acontecer.

faço parte do segundo grupo, ou seja, não fico surtando, estudando, mas sou uma das poucas que já tá passada...

faço estágio também mas não fico pirando com essa nóia de mercado de trabalho.

quando fui pra argentina, num congresso de estudantes, o que me pareceu é que os universitários levam a acadêmia ai como 'academia' mesmo, um tempo da vida onde você tem que se preparar e 'universalizar' o conhecimento... e não se preocupar com o mercado de trabalho. aqui tem gente que estuda pra ter emprego, e não pra ganhar conhecimento.

Túlio disse...

Nayara, acho que quase todos no Brasil estudam para ter um emprego. Confesso que eu mesmo tinha essa mentalidade e por causa disso absorvi muito pouco na faculdade.

Talvez a pressão seja maior no Brasil ou talvez seja só uma disculpa para justificar esse comportamento.

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