sábado, novembro 08, 2008

Especial Rock de Curitiba: 4 - Oaeoz.


Oaeoz é uma das mais experiente bandas de Curitiba. Passaram por várias formações, com os melhores músicos da cidade, e traduzem muito bem em som e letras a vida na capital das estações-tubo.

Conheci a banda ao baixar o mp3 da música "Disco riscado" que começava dizendo "O telefone conspira, o cachorro do vizinho está contra mim". Foi fulminante.

Entre seus melhores trabalhos está "Às vezes céus", que tem uma sonoridade finíssima e sofisticada, intercalando momentos nervosos e tensos de guitarra com o lirismo de violoncelos, sempre com letras de causar inveja. Esse ano eles lançaram "Falsas baladas e outras canções da estrada" e o cd "Ao vivo na Grande Garagem que grava".

Com muito conhecimento de causa, Ivan Santos, o vocalista, compositor e idealizador do "Rock de Inverno" fala sobre os dois cd's lançados esse ano pela banda, sobre o rock curitibano de antes e agora, além de sua atuação como produtor cultural.

1. Houve um progresso nessa última década na cena musical de Curitiba? Há mais público e respeito "musical" para com as bandas?

Que houve progresso eu não tenho dúvida. Se a gente pensar em como eram as coisas nos anos 90 e como são hoje, é inegável que houve melhora. Hoje é muito mais fácil gravar um disco e disponibilizar ele para as pessoas. Uma banda como a Relespública levou quase dez anos para lançar um disco cheio, e hoje qualquer banda recém-formada tem disco. E com o avanço na internet, você tem muito mais canais divulgar isso e atingir o público.

Agora as dificuldades essenciais continuam as mesmas. A própria internet – que inicialmente era vista como uma espécie de panacéia para os independentes – tem alcance restrito em um país como o Brasil, onde grande parte da população não têm acesso ao mundo virtual. O grande público ainda continua se informando principalmente através do rádio e da televisão, e nesses meios, a inserção dos independentes é mínima, tanto aqui quanto no restante do País. Portanto, a gente continua tendo que matar um leão por dia, ou seja, tendo que trabalhar muito para conquistar espaço.

2. Há dez anos atrás a internet não ajudava tanto as bandas como hoje, mas sim os jornais, rádios e tvs. Atualmente a grande mídia de Curitiba dá atenção para as bandas?

A atenção que a grande mídia dá ao segmento independente tem altos e baixos ao longo do tempo. No começo dos anos 90, por exemplo, com o surgimento daquela geração 92 graus, Curitiba chegou a ser apontada como a “Seattle brasileira” pela revista Bizz. Depois houve outro pico lá por 2002/2003, quando uma série de coisas estavam acontecendo, como o Rock de Inverno trazendo duas dezenas de jornalistas de fora, incluindo MTV, etc, e com o surgimento também do CPF. Na mesma época o Jornal do Estado lançou uma coletânea com 18 bandas locais que fez o jornal esgotar nas bancas, e a Gazeta do Povo fez algo semelhante logo após, lançando quatro coletâneas com mais de 70 artistas, e que igualmente teve ótima saída.

Depois houve um refluxo pelo próprio encolhimento do mercado e a crise na indústria, a mudança no perfil dos meios de comunicação, esse espaço se retraiu. Tenho a impressão que atualmente há um novo crescimento no interesse dos mass media pelos independentes, até pela crise no mainstream, eles estão em busca de novos conteúdos, e a regionalização das programações é uma tendência inevitável. Alguns exemplos são iniciativas como o Lulapaluna, da RPC, ainda que forma incipiente, incluindo bandas locais; os acústicos da rádio Mundo Livre FM (também da RPC), a volta de uma coluna fixa na Gazeta do Povo para a música local.

Agora se isso vai vingar e vai se ampliar, só o tempo dirá. E para quem milita nesse meio, as formas alternativas de divulgação e difusão ainda são indispensáveis. Até porque muitos desses veículos alternativos, como o Último Volume, da rádio Lúmen, com seus 4 a 5 mil ouvintes só pelo rádio aberto, são opções tão boas quanto a grande mídia para se chegar até seu público.

3. Falemos do OAEOZ. No que "Falsas baladas" se distingue em produção e som de "Às vezes céu"? O som agora parece mais nervoso e guitarrento, com menos pianos e violino e com mais guitarra. Mudanças de formação afetaram o som da banda?

A diferença básica é que o “As vezes céu” foi gravado em um grande estúdio profissional, o Nicos, enquanto o “Falsas baladas...” foi gravado lá no estúdio da casa do Carlos Zubek, nosso guitarrista, onde a gente já ensaia há alguns anos. O que a gente “perdeu” em termos de recursos técnicos, ganhou em tempo para trabalhar a gravação, e principalmente a mixagem. Foi um grande aprendizado, já que inicialmente a gravação foi feita com a ajuda de um amigo, o Luigi Castel, e depois a mixagem foi assumida pelo Carlão. Com isso, o resultado ficou muito mais próximo do que é a banda ao vivo. E os próprios arranjos e composições ficaram mais enxutos. Ainda tem piano, violão, e violino, mas tudo colocado de uma forma mais concisa.

4. Sinto uma grande preocupação com as letras da banda, que nunca decepcionam. Existe algum escritor ou compositor em que você se espelha? Como surgem essas letras?

Eu sempre gostei de música com boas letras. E minhas referências, mais do que literárias, são mesmo de letristas que admiro como Lou Reed, Ian Curtis, Neil Young; ou no Brasil, de caras como Lobão, Renato Russo, Rubinho Troll (vocalista do Sexo Explícito/antiga banda do John, hoje guitarrista do Pato Fu). Eu também destacaria a influência de amigos e parceiros próximos, como Rubens K (Iris/Terminal Guadalupe), e Igor Ribeiro (Iris), e de artistas contemporâneos brasileiros, como o Beto Só (DF), e Olavo Rocha (Lestics/Gianoukas Papoulas).

Mas isso tudo é mais no plano “subconsciente”, porque na hora de escrever uma letra conta muito mais a intuição do momento ou a sugestão que vem da melodia ou de alguma coisa que você tá sentindo/vivendo. As letras do Oaeoz têm caráter pessoal e confessional, então eu não penso no que vou escrever antes, e muitas vezes só percebo sobre o que estou falando depois que está pronto.

5. Quais os planos depois desse cd? Algo novo planejado?

A idéia é a medida que surgirem oportunidades e convites, tocar ao vivo e mostrar essas músicas, mas a gente tá numa fase bem low profile, então no momento não temos nada oficialmente agendado ou planejado. Pessoalmente, eu estou produzindo um EP em parceria com o Giancarlo Rufatto, que deve sair ainda este ano.

6. Voltando a Curitiba. Por que será que nunca uma banda da cidade estourou pra grande mídia? Nos tempos atuais de myspace e youtube isso ainda é possível?

Eu poderia citar uma série de fatores culturais e geográficos, mas acho que o que acabou sendo determinante mesmo é a questão sorte. Aquela coisa da banda certa, no lugar certo, na hora certa.

Acho sim que isso pode acontecer hoje em dia, mas é preciso ter em mente que o paradigma que a gente tem de sucesso ainda é aquele dos anos 80, 90, de um artista que surgia aparentemente do nada e virava sucesso nacional ou internacional da noite pro dia. E hoje, cada vez mais você vê menos isso acontecer. Os artistas novos que fazem sucesso o fazem em nichos segmentados e não mais para o grande público em geral. Um exemplo é a Mallu Magalhães, que mesmo tendo frequentado todos os programas de TV aberta no Brasil continua sendo uma artista basicamente indie. Ou o próprio Bonde do Rolê, que é ignorado no Brasil e em Curitiba, mas é sucesso em Londres e toca em todos os festivais da Europa.

Essa coisa do grande artista milionário em seu olimpo andando de limusine e recebendo os tubos da gravadora é cada vez mais uma coisa do passado. As próprias gravadoras não investem mais em artistas novos, a não ser quando eles já têm uma base de fãs consolidada, ou seja, já estão prontos.

Então cada vez mais os artistas vão ter que construir suas carreiras de forma independente, procurando atingir o público com suas próprias estratégias, construindo um trabalho de médio e longo prazo. E pra isso, tanto faz ser de Curitiba ou de Itapecirica da Serra.

7. Sobre o selo e o Festival De Inverno, como foi o nascimento de tudo e o que aconteceu para que acabasse? Teremos um novo festival De Inverno ano que vem?

O selo surgiu porque a gente (OAEOZ) não tinha gravadora, então começou a lançar os próprios discos e os discos de amigos e bandas que a gente gostava então criamos um selo pra isso. E o festival surgiu da idéia de reunir bandas novas que a gente curtia em um evento pequeno, mas bem organizado, como forma de chamar a atenção para essa cena.

O que aconteceu foi que nós tivemos um problema grave em 2003, quando o Rock de Inverno 4 foi cancelado porque a casa (Diretoria Café) não tinha a documentação em ordem, e acabou sendo embargada logo após aquela ocorrência de um show no Jockey que terminou com pessoas mortas. Isso gerou uma briga entre o governo do Estado e a prefeitura, e nós acabamos pagando o pato.

Depois disso, a gente ainda fez o Rock de Inverno 5 e 6 em 2004 e 2005. Mas a partir daí resolvemos que só faríamos novamente se conseguíssemos um patrocínio que garantisse fazer a coisa sem tanto sacrifício pessoal, e com recursos que permitissem que o evento pudesse acontecer com uma estrutura melhor. Desde então, tivemos um projeto aprovado pela Lei Rouanet, mas que não conseguimos captar recursos. Inscrevemos outro projeto no edital da Petrobrás, mas não fomos selecionados. E agora estamos na expectativa do resultado do edital da Fundação Cultural para festivais independentes. Se tudo der certo teremos o Rock de Inverno 7 no ano que vem.

8. Quais bandas da cidade estão fazendo um som novo e digno de destaque?

Tem muita coisa boa por aí, sempre. Eu gostei muito de uma banda nova que conheci a pouco tempo, o Pão de Hamburguer, que apesar do nome engraçado faz um trabalho de altíssimo nível, muito bem resolvido tanto musicalmente quanto nas letras. Tem o Je Rêve Toi, duo que combina batidas eletrônicas, violino e guitarra. O Giancarlo Rufatto, um dos melhores compositores da nova geração. Tem o Folhetim Urbano, outra banda do Carlos Zubek, do OAEOZ, que está gravando um disco novo muito bom. E tem outras bandas já mais veteranas, mas que têm lançado bons novos trabalhos, como o ruído/mm, sem dúvida hoje um dos melhores e mais ativos combos da cidade.

9. Pra finalizar, pra você o que é um som genuinamente curitibano?

Acho que genuinamente curitibano é justamente essa diversidade, essa mistura de tribos, etnias e jeitos diferentes de se expressar que convivem no mesmo espaço. Então eu poderia citar coisas tão distintas como Wandula (ninguém faz o som que eles fazem no Brasil, e só poderia ser de Curitiba); ou o Maxixe Machine – um dos melhores textos do pop brasileiro atual, com uma ironia e mordacidade ímpar; o Charme Chulo, que sem dúvida construiu uma das carreiras mais prolíficas e de personalidade no rock brasileiro dos anos 00. Acho que a vantagem de Curitiba – se é que existe – é justamente não estar presa há nenhum estereótipo cultural, como o carioca, o gaúcho ou o baiano. Isso faz com que a gente possa ser tudo o que quiser e ainda assim, ser absolutamente a gente mesmo.

Mais aqui:

Myspace - http://www.myspace.com/oaeoz

Blog De Inverno - http://deinverno.blogspot.com/

12 comments:

giancarlo rufatto disse...

hu hu tem meu nome ali.

:)

Túlio disse...

hahah... tá todo se fazendo.

Marcelo Urânia disse...

hj vim pro trabalho ouvindo o falsas baladas! bela entrevista!

Marcelo Urânia disse...

acho o 'às vezes céu' fabuloso!

Túlio disse...

certamente um clássico.

giancarlo rufatto disse...

eu não gostava. A primeira vez q ouvi a banda, soltei um "karnak com indie rock" pra minha namorada e foi assim até conhecer os caras e entender qual era a lógica utilizada no OAEOZ. Hoje é uma das minhas bandas favoritas desse brasilzão, ano 00.

Túlio disse...

Karnak? haha
NADA A ver cara... Que eu saiba o OAEOZ nunca teve um cachorro na banda!

Anônimo disse...

é. eu também não gostava do gian. parecia "renato russo com hemorróidas". mas aí ele pagou um jabá, entrou na panelinha, e tudo certo.

giancarlo rufatto disse...

po, eu nem tenho hemorroidas, voce deve estar me confundindo com outro cara de ctba que imita renato russo.

Túlio disse...

foi instalada a polêmica, meus caros!

Anônimo disse...

ahahah!

André Ramiro disse...

putcha vida!

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